Megera Indomável

A megera caminha até o telefone e, com uma estranha tranqüilidade, disca para o número indicado no papel. Esse número foi lhe dado há um tempo atrás por um rapaz vestido elegantemente com terno e com bonitos óculos escuros que, logo se viam, eram italianos.

A excitação do momento torna suas mãos, por um momento, trêmulas, afinal de contas, a vigília finalmente havia terminado e era hora de passar o fardo para outra pessoa, aliás, infernizar a vida da garota não era o problema, o problema residia na situação em si que, como era de extrema importância para o governo, fazia com que um pesado manto caísse sobre suas costas.

Mas ela não se livraria disso, claro que não.

Finalmente alguém aparece do outro lado da linha: - Sim? - uma voz feminina, quase robótica, responde do outro lado. - Eu gostaria de falar com o Sr. Munn... ele está disponível? - quase gaguejava com a empolgação. - Quais são os quatro últimos números de seu telefone? - 3894. - Certo. Sua ligação será transferida, aguarde um instante.

É estranho dizer, mas ela não tinha nem um pouco de remorso em seu coração. Inclusive, ela sentia que deveria continuar vigiando de perto, apenas para ter certeza que a garota não escaparia de algum sofrimento. Seria interessante cogitar a possibilidade de... opa, alguém atendeu: - Munn falando. - Sr. Munn, ela se foi. - Há quanto tempo? - Cerca de 4 horas atrás ela embarcou para a Europa. - Ótimo, seu trabalho está encerrado, daqui para frente deixe com a gente. - Hã... Sr. Munn? - Sim? - Eu... hã... poderia... - as palavras não saíam. - Diga logo, tenho coisas a fazer. - Tá. Eu gostaria de acompanhar as investigações. - falou com uma firmeza equivocada. Seguiu-se um silêncio. Incômodo. Sr. Munn parecia pensar. Depois de ouvir umas batidas em um teclado, veio a resposta: - Permissão concedida. Esteja preparada, amanhã um carro passará para pegá-la pela manhã. - Obrigada Sr. Munn.

O telefone é desligado na sua cara. Não importa. Amanhã ela fará parte de uma investigação do governo americano e terá a chance de ver aquela infame sofrer mais um pouco... melhor ainda! Sofrer pelas suas mãos... Agora ela realmente tremia.